13 agosto 2007

Antonioni e a alienação

Quem assistiu Blow-Up, do Michelangelo Antonioni, deve lembrar da última cena do filme, em que o fotógrafo, personagem principal, fica a ver um jogo de tênis imaginário, jogado por uma trupe de mímicos e, depois, sai a correr para pegar a bola imaginária que caíra fora da quadra. Essa cena, de certo modo, resume o espírito do filme: o personagem só consegue participar efetivamente de algo que não existe, ou que, se existe, não é real, é um simulacro, um jogo imaginário. Porque durante todo o filme, o personagem que é o fotógrafo, é de uma arrogância impressionante, principalmente em seu estúdio, seu mundo privado, sua esfera própria, seu mundo: só naquele espaço ele participa de algo, porque é o mundo que ele controla. Fora dali ele é um estranho, como todos nós somos estranhos para o mundo que habitamos e em nossa intimidade reproduzimos os valores do mundo lá fora. Mas, efetivamente, como participamos do mundo ? As coisas acontecem sem que tenhamos o menor domínio sobre o que quer que seja, tudo acontece sem que consigamos determinar o rumo, no fundo só enxergamos a nós mesmos. Porque reproduzimos, na esfera individual, a lógica dos valores capitalistas, de atomizar sentimentos e indivíduos, de classificá-los segundo uma escala de valores relacionado com os nossos interesses; enxergamos, sempre inconscientemente, na maior parte das vezes, enxergamos os outros como coisas e assim também nos enxergamos, como uma coisa a serviço de alguma força exterior a nós.
Nosso mundo não se torna cada vez mais somente um simulacro das coisas ? Uma arena onde nos acostumamos a expor nossas vísceras, nossas misérias interiores como prêmios televisivos ? E que alienação pode ser maior que essa, a alienação da imagem, onde nossa própria interioridade desfaz-se como uma miragem projetada sob os refletores ?
Por isso que o fotógrafo, depois de devolver a bola imaginária, fica sozinho sobre o gramado, e a câmera se afasta, fazendo com que ele apareça, cada vez menor, na sua completa insignificância frente ao mundo...

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei da história do filme, mesmo sem ter assistido. Achei interessante a proposta do Antonioni, de despertar as pessoas para o mundo em que nós vivemos.