19 outubro 2010

Dois Poemas, Um em Prosa

Nessa nova postagem, um poema em prosa de minha autoria - Pequenas Possibilidades Cósmicas, e um poema de minha filha Vitória - Primavera. Boa Leitura


Primavera
Vitória Alencar Sousa


A aurora desperta escondida

- privilégio dos insones -

e interminavelmente continua seu trabalho

dia após dia


Cada vez mais cedo

Primavera e - por que não -

Outono em meu coração.



Pequenas Possibilidades Cósmicas


Sua língua me habita, chave que abre as portas da noite nagual. Em breve o vento das estrelas, el Huracan celeste nos levará pelos mesmos becos cósmicos, esses vãos entre os grãos de areia, esse intervalo entre gotas d'água.

Abraçarei tuas asas como criança que encontra o sol na estrada e o leva para brincar de esconde-esconde e correm juntos pelos bosques, bebem dos regatos a insistente música do cosmos.

Irei contigo onde fores, língua que escreve na areia, pluma que dança na miragem dos oceanos. Entre teus deuses sou o estranho, meus olhos têm sangue, os teus têm estrelas; tu bebes a luz, sou tabuleiro, por isso olho ansioso a esfericidade dos limões, a geometria dos frutos, a geografia do sexo da terra.

Mergulharei em tua carne improvável deusa-mariposa, deixa-me ser por um instante a névoa que te envolve, o talo de relva em que pousas, a flor que te alimenta. Oceanos de néctar descerão em tua garganta, sou cometa entre cenotes e aldravas, alfabeto que se narra no amanhecer.

Eis aqui nosso amor, pequenas possibilidades cósmicas de paixão. Enquanto voas, a lua acende promessas de espaço.

13 outubro 2010

Aquilo que a Deusa Vê

Dispense títulos, honrarias
o manto da poesia são as ruas
os corações secretos
dispense a seda
prefira o algodão dos dias
as vestes da paixão
dos andarilhos
outrora o verso poderá
animar colheitas
desfazer suspeitas
a liberdade é nosso vício
que venham as estações claras
onde flores se abrem graciosas
a brisa ameniza o tédio
que venham os dias heróicos
pela palavra maldiremos
os monstros
os que ferem com dinheiro a inocência
que suas mãos queimem noite, dia
que brotem chagas em suas faces de cão

que venha o tempo da redenção
quando o perfume das estrelas
vazará pelas entranhas da terra
de caverna em caverna
acordando pitonisas
seus olhos de nereida e águia
deixem para trás os compromissos
só há olhos para os que veem
aquilo que a Deusa vê.

04 outubro 2010

The Lemons & The Revolvers

Essa é uma postagem diferente, um conto de Ariadne Alencar Sousa, sobre o mundo das bandas de rock, com uma dose de humor e esperança. Ariadne é minha filha mais nova (11 anos).

The Lemons e The Revolvers

Ariadne Alencar Sousa

Olhei, angustiado, em volta do palco. Só encontrei um cara com um balde e uma vassoura na mão. Era ele.

- Com licença, o senhor é vocalista da banda The Lemons?

- É... sou.

- É verdade que vocês vão tocar no Festival da Independência?

- Não.

Maravilha. Aquela era uma oportunidade para a nossa banda entrar em ação.

- Mas então o que o senhor está fazendo aqui?

O vocalista suspirou.

- Hambúrguer. Não vê que eu fazendo hambúrguer?

- Sério? Não parece.

- Garoto, você é cego ou o quê? Eu lavando o palco!

Depois de um tempo, o vocalista voltou a falar:

- Talvez a gente toque. Você sabe, tem que pagar pra tocar.

Aquilo me deixou com uma com uma sensação meio ruim. Tá certo que o que a gente tinha passado pra chegar até lá não havia sido nenhuma moleza, mas a gente não teve que limpar chão nenhum!

-Ei, senhor,(não sei se devia chamar ele de “senhor”,ele parecia não ter nem vinte anos direito; seja como for era mais velho que eu) nossa banda vai tocar aqui! A gente podia se juntar com a sua banda e tocar tudo como uma banda só! Não ia ser a maior loucura? Uma banda com dois baixistas,dois vocalistas, dois bateristas e dois guitarristas! E juntando o estilo Beatles da minha banda com o hardcore do senhor, a gente podia fazer um hard psicodélico de primeira!

O vocalista me olhou desconfiado.

- O resto da banda é feita de guris malucos iguais a você?

- Bem...é.

- Então os The Lemons tão nessa!Não somos guris mas somos malucos!

- É isso aí!