20 agosto 2007

Admirável Mundo Velho

Subitamente, a realidade me invade os poros: corremos rápido para o grande vácuo da indistinção, para o abismo insípido que a sociedade capitalista cavou. Já falei sobre nossa escravidão cultural, moral e psicológica, sobre nossa falta de perspectivas de valores, mas o fato é que se a ciência não isolar-se dos objetivos imediatos do capital, corremos o risco de transformarmos nosso niilismo em uma necessidade programada a ser respondida pelos favores da ciência e da civilização.Pensem na depressão e na forma como ela é tratada: como doença hereditária, condicionamento genético ou sei lá o quê, e nunca como o resultado do descompasso entre a vida do indivíduo e as pressões sociais.Escravizados que somos pela máquina social, é normal que nosso corpo-psique responda com uma permanente insatisfação, por fazer aquilo que não deseja, sem que tenha tempo para os sonhos, os sentimentos, sem que se tenha tempo para a interioridade. O indivíduo depressivo não é produtivo, então, haja diazepans, prozacs e congêneres, haja o universo das drogas permanentes e transitórias ( álcool, cigarros, televisão, cocaína, maconha, status, sexo, churrascos, músicas de ritmo acelerado, movimentos pela paz, narcóticos gerais...), para manter o indivíduo em um estado satisfatório para a máquina do estado.
Na verdade, não vivemos, somos vividos. Assumir a vida, de fato, é assumir a existência de sua própria interioridade e da necessidade de criarmos nós mesmos os eventos que ajudem a satisfazer nossas necessidades psico-culturais. Não vivemos. Assumimos o que não somos e o que não queremos pela pressão fabulosa da máquina social, pela pressão invisível da ideologia, pela pressão interna dos valores que inconscientemente assumimos e que conformam nosso ser a uma moldura que não lhe corresponde.
Deveria, aqui, conclamar ao suicídio coletivo, se ele fosse a resposta, como maneira de quebrar a opressão do estado. Mas não, clamo à revolta. Não à revolta de substituir um estado por outro (capitalista por comunista ou socialista), mas à revolta do indivíduo de auto-determinar-se, de conformar sua própria interioridade, de assumir sua escala de riscos, valores e perigos, de trilhar sua jornada interior ainda que no mundo e contra ele.
Num mundo de escravos, devemos fazer uma revolta de senhores. Não comer dos velhos alimentos enlatados, os matrix da vida, a música estúpida e repetitiva das bandas de pagode e axé, das roupas padronizadas, dos mesmos programas de fins de semana. Uma desobediência civil interior. Como diria o grande poeta surrealista Benjamin Peret: eu não como desse pão.
Quero o imprevisível, não o óbvio. A vida é sinuosa e suas águas nunca são as mesmas. É preciso romper os diques que nos prendem no horizonte da previsibilidade.
Admirável mundo velho: não me importa se tua escravidão é asséptica e tecnológica - é escravidão.
Chamo à revolta e à liberdade A liberdade de se construir o próprio destino, nem que seja na solidão impensável dos horizontes do espírito.
É preciso dizer sim à vida e não à insânia do Capital. Dialética do imprevisível: construir um horizonte de nãos para poder dizer sim.
Até a morte.

6 comentários:

Anônimo disse...

já copiei o poema de 15 de agosto. vou salvá-lo no pc.
é grandiosamente verdadeiro .
maíra

Anônimo disse...

Parabéns, Gledson. Compartilho dessa "revolta" e afirmo que no Brasil a letargia das massas é abismal.

Anônimo disse...

nossa....
maktub???
Digno (o escrito) de estrelas!!!!!!!!

Deise Casado

Anônimo disse...

TIO CREYSOM SERAH KI VC PODE MI TRADUZII O Q VC ESKREVEU AIH NESSE BROG? KI LINGUA EH ESSA? PORTUGUEIS?..................................... Brincadeirinha! Parabens! Voce escreve divinamente e sabe que eu tenho muito orgulho de voce ser meu tio! Super abraco, vou ler com calma o conteudo, mas pela olhada rapida, esta muito legal!

Anônimo disse...

naum entendi mas vc eh o pai da vitoria? bjs

Anônimo disse...

Parece que esse é o futuro do mundo, infelizmente. Mas ficou ótimo.