03 maio 2008

Dois Poemas

Há Muito Tempo

Há muito tempo, nem havia fadas
o real era caminho sem palavras
não tinha voz
por isso o sentimento
falava inteiro

na boca dos sapos, nas pernas dos grilos
no canto das aves, no uivo do vento
era amor
pura vogal

nem havia eu nem tu
éramos confusos
no começo do mundo
minha mão era teu coração
meu coração tua voz

os rios subiam as montanhas
bebíamos da mesma fonte
em que a poesia borbulhava
em silêncio

há muito tempo
tento o caminho da montanha
tropeço, caio, silencio
para falar moram na língua espinhos
nos pés botas de navalhas

e um sol tão forte
nasce mesmo além da morte
há muito tempo
procuro esse sol.



Flor das Estações

Vi a estrela Sirius no sertão
escrituras egípcias no Seridó
ó mana deixa eu ir
para algum lugar que seja novo
um lugar onde floresça
no barro a flor das estações
ó mana deixa eu ver
em teu cabelo a flor de maio
em tuas mãos o livro
inscrito no sangue da terra
mil maravilhas vi
entre o mato rasteiro e o horizonte
espirais na pedra
trigramas curvos
dando nome ao sertão
quando vem de longe o amor invade maio
ó mana deixa eu ir
para um lugar onde
o país do coração
seja lei.

Um comentário:

Unknown disse...

Por onde viajas meu amigo
nessas linhas que que outros n�o?
j� mais v�o entender tal raz�o...
mas se por ventura entendessem,
um poema n�o seria apenas um poema,um poema seria uma li�o...
uma li�o de entender o devir,uma li�o do sert�o,ou quem sabe,um
um poema seria mais que um poema...
uma raz�o de ser,muito mais que rimas em palavras...amor sentido em raz�o de ser.