O que vou escrever hoje é uma nota bem pessoal; aliás, muito pessoal. Acho que ela fará jus à natureza intimista de um blog, talvez só não faça jus ao caráter massivo do próprio meio (a internet), porque a própria escrita se responsabilizará por criar suas barreiras discursivas contra aqueles que querem tão somente bisbilhotar as vidas alheias.
Vê-se que a intimidade dessa nota segue por caminhos cruzados, falas paralelas, marcadas pelos símbolos e pelo silêncio; mas quero dizer, sem receio, que nossa vida está sempre por um fio e que a cada dia lutamos contra o silêncio e a morte, contra a indiferença e o medo. É isso que tenho feito dia após dia, hora após hora: não sei se me faço entender, mas é preciso tirar a vida da suspeita e do vazio em que ela está inserida, e para isso precisamos carregar de sentidos nossos gestos - as expressões de amor, os nãos, os sins, a vontade, os apertos de mão, os abraços - precisam ser carregados de eletricidade amorosa, de plenitude; eles não precisam ter significados, a não ser o significado próprio ao gesto, à sua expressão, ao seu próprio universo - um gesto de amor é somente isso, e mais nada - e precisa ser algo mais?
Revelará essa nota algum desespero? Alguma afronta à esperança? Não, a esperança não é uma deusa cega - só esperamos algo porque acreditamos na realização apesar de todos os nãos, apesar de todos os obstáculos, apesar da presença constante do vazio e da morte. A morte nos ronda o tempo todo - de diversas maneiras: a morte física, a morte dos afetos, a morte da esperança, a morte de deus, a morte das utopias, a morte do homem... -; crescemos lutando contra a morte, crescemos lutando contra aqueles que dizem que nossas esperanças morreram, que o amor nunca se realizará, que o homem é um animal "cínico"; crescemos, ironicamente, sobre os despojos dessa luta sem fim contra a morte; aliás, contra as mortes. Engraçado que crescer seja também caminhar para a morte. Mas será possível transformar a morte em algo mais que o nada?
Estar pleno, estar cheio de si, realizar-se enquanto humano nos afasta desse horizonte sombrio, mas essa auto-realização não é pacífica, ela é uma permanente luta, e como toda luta tem seus dias de paz, seus dias de festa, além dos seus dias obscuros. É essa plenitude que deve ser buscada, não num horizonte além, mas aqui-agora, não em nenhum além, mas no dia a dia, com as pessoas com as quais vivemos, com as pessoas às quais amamos: dos mais simples gestos aos mais grandiosos - isso não é um roteiro de atitudes piegas: na realidade, afirmar a nossa humanidade e plenitude no cotidiano é uma maneira de vencer a estupidez das relações mecanizadas, vencer a massacrante rotina imposta pela sociedade massificada, é resistir à permanente desumanização a que estamos submetidos. Estamos longe dos horizontes religiosos, queremos que os seres se afirmem humanamente sem precisarem de outras esferas que justifiquem o que elas são, que se afirmem corajosamente como se cada dia fosse o último.
Às vezes sonho sonhos estranhos, alguns sombrios, outros luminosos. A vida parece-me um oceano de estrelas e constelações, onde mergulhamos infindavelmente: cada gesto na água espalha luz, mesmo quando não vemos nada, estamos mergulhados em luz que não vemos, em sentidos que construímos em silêncio ou não; a simbologia onírica atribui às estrelas o valor de numens do melhor de nós, portadoras de esperanças e realizações. Não sei que valor atribuir às estrelas, não sei nem como dimensioná-las numa axiologia pessoal, numa simbólica interior - o que sei somente é que elas trazem para mim a grata sensação de universo sem fim, de uma beleza magnífica, da qual faço parte; o que sei é que certas pessoas aparecem para mim como estrelas, a brilharem num horizonte que às vezes só eu sei. A essas estrelas, anunciadoras de novos dias, guardo palavras e músicas que resgatei dos dias em que eu era somente alguém que contemplava uma terra de ninguém, dias em que estava à espera de notícias que viriam de longe e que anunciariam que toda guerra terminara, principalmente aquela que fazia contra mim mesmo. Essas estrelas trouxeram à tona o melhor de mim.
Esse texto é ele mesmo um gesto - espero que ele tenha sentidos. Porque sinto que cada dia, agora, tem um valor inestimável, e que é preciso brandir aos ventos o amor, a beleza, a sede de justiça, a esperança.
Sim, é preciso portar a bandeira da esperança, para que sua estrela brilhe acima de todos os edifícios, para que sua luz se faça plena em nós.
Esse é meu gesto de amor.
Vê-se que a intimidade dessa nota segue por caminhos cruzados, falas paralelas, marcadas pelos símbolos e pelo silêncio; mas quero dizer, sem receio, que nossa vida está sempre por um fio e que a cada dia lutamos contra o silêncio e a morte, contra a indiferença e o medo. É isso que tenho feito dia após dia, hora após hora: não sei se me faço entender, mas é preciso tirar a vida da suspeita e do vazio em que ela está inserida, e para isso precisamos carregar de sentidos nossos gestos - as expressões de amor, os nãos, os sins, a vontade, os apertos de mão, os abraços - precisam ser carregados de eletricidade amorosa, de plenitude; eles não precisam ter significados, a não ser o significado próprio ao gesto, à sua expressão, ao seu próprio universo - um gesto de amor é somente isso, e mais nada - e precisa ser algo mais?
Revelará essa nota algum desespero? Alguma afronta à esperança? Não, a esperança não é uma deusa cega - só esperamos algo porque acreditamos na realização apesar de todos os nãos, apesar de todos os obstáculos, apesar da presença constante do vazio e da morte. A morte nos ronda o tempo todo - de diversas maneiras: a morte física, a morte dos afetos, a morte da esperança, a morte de deus, a morte das utopias, a morte do homem... -; crescemos lutando contra a morte, crescemos lutando contra aqueles que dizem que nossas esperanças morreram, que o amor nunca se realizará, que o homem é um animal "cínico"; crescemos, ironicamente, sobre os despojos dessa luta sem fim contra a morte; aliás, contra as mortes. Engraçado que crescer seja também caminhar para a morte. Mas será possível transformar a morte em algo mais que o nada?
Estar pleno, estar cheio de si, realizar-se enquanto humano nos afasta desse horizonte sombrio, mas essa auto-realização não é pacífica, ela é uma permanente luta, e como toda luta tem seus dias de paz, seus dias de festa, além dos seus dias obscuros. É essa plenitude que deve ser buscada, não num horizonte além, mas aqui-agora, não em nenhum além, mas no dia a dia, com as pessoas com as quais vivemos, com as pessoas às quais amamos: dos mais simples gestos aos mais grandiosos - isso não é um roteiro de atitudes piegas: na realidade, afirmar a nossa humanidade e plenitude no cotidiano é uma maneira de vencer a estupidez das relações mecanizadas, vencer a massacrante rotina imposta pela sociedade massificada, é resistir à permanente desumanização a que estamos submetidos. Estamos longe dos horizontes religiosos, queremos que os seres se afirmem humanamente sem precisarem de outras esferas que justifiquem o que elas são, que se afirmem corajosamente como se cada dia fosse o último.
Às vezes sonho sonhos estranhos, alguns sombrios, outros luminosos. A vida parece-me um oceano de estrelas e constelações, onde mergulhamos infindavelmente: cada gesto na água espalha luz, mesmo quando não vemos nada, estamos mergulhados em luz que não vemos, em sentidos que construímos em silêncio ou não; a simbologia onírica atribui às estrelas o valor de numens do melhor de nós, portadoras de esperanças e realizações. Não sei que valor atribuir às estrelas, não sei nem como dimensioná-las numa axiologia pessoal, numa simbólica interior - o que sei somente é que elas trazem para mim a grata sensação de universo sem fim, de uma beleza magnífica, da qual faço parte; o que sei é que certas pessoas aparecem para mim como estrelas, a brilharem num horizonte que às vezes só eu sei. A essas estrelas, anunciadoras de novos dias, guardo palavras e músicas que resgatei dos dias em que eu era somente alguém que contemplava uma terra de ninguém, dias em que estava à espera de notícias que viriam de longe e que anunciariam que toda guerra terminara, principalmente aquela que fazia contra mim mesmo. Essas estrelas trouxeram à tona o melhor de mim.
Esse texto é ele mesmo um gesto - espero que ele tenha sentidos. Porque sinto que cada dia, agora, tem um valor inestimável, e que é preciso brandir aos ventos o amor, a beleza, a sede de justiça, a esperança.
Sim, é preciso portar a bandeira da esperança, para que sua estrela brilhe acima de todos os edifícios, para que sua luz se faça plena em nós.
Esse é meu gesto de amor.
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