Deve ser uma paisagem o que vejo na música: alguns homens numa estrada deserta levando oferendas a um tempo que ainda não chegou
Caminho ao lado dos que nunca acharam pátrias, porque nunca as buscaram.
Caminhamos em busca das cores do devir
As paisagens desaparecem sob névoas e nuvens de poluição; só em sonhos vemos estrelas
Tudo o que há é um grande silêncio; ou um grande medo. as pessoas temem o amor como a uma doença
Deve ser uma paisagem o que busco, porque as pessoas silenciaram
escuto o eco que vem de outras dimensões, o grito que soltei no pretérito, quando os olhos eram estrelas
Escrevo em papiro poemas que ninguém lê
A não ser os que perderam suas personas numa curva qualquer
Pássaro sobre onda, hexagrama do futuro
Homem sob lama, hexagrama do passado
Coração, eneagrama
Devo ser uma paisagem num lugar oculto, por onde passam os que não pensam no futuro
Sozinhos como um buraco negro, somos o que se desfaz no vácuo
As notas são de uma mandora, a música vem da garganta de um deus
Deve ser uma paisagem essa terra estranha
Onde as deusas sonham que são pássaros
Os homens sonham que são deuses
E os deuses, nada sonham
Palavras são gotas de mercúrio
Na ampulheta inversa do universo
Coração desperta
Há milhões de anos aquela rocha escuta a montanha
Deve ser uma paisagem a solidão.
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