12 outubro 2007

Uma Pausa No Pan

Do CADERNO DE JANO (Work In Progress)

X - Todo poeta é solitário. Ele vê os pêlos das flores de maio, ele vê a cópula dos pequenos insetos transparentes, ele vê o rosto do amor; e cada onda do mar, cada brisa, passam pelo seu coração, mas ele está só. Ele vê as tramas que erguem o dia, ele entende o canto dos sapos, lê o alfabeto dos musgos, ele escuta as vozes das meninas e sabe da cor do coral nos olhos das sereias, mas ninguém lembra que seu coração é uma arena e ele está só. Mesmo as palavras já não são mais companheiras, elas passam pelas suas mãos como matéria de fogo para novos poemas, mas logo ele está só, como uma sombra das palavras, como uma sombra dos amores, como uma sombra do nada. O poeta tem filhos, mas está só. O poeta tem esposa, pais, irmãos, mas está só. O poeta tem musa, mas está só. Só, como um número num mar de letras, como uma bandeira numa montanha tibetana; só, como um planeta escondido num eclipse, como uma onda que chega numa ilha que ninguém conhece. Como um casarão no meio de inúmeros edifícios. Como o oxigênio no céu de Saturno.
Não há ninguém que lembre do poeta. Só como alguém que tem esperança mas sabe, com o puro amor, que ninguém lhe ouvirá. Nem sua musa.
O poeta está. Como alguém que vem de uma terra inóspita. Como alguém que parte para o desconhecido.
O poeta está só. Sentado à beira do abismo, olhando estrelas.
Só.

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