15 setembro 2007

Os Aforismos de Pan - I


Mil olhos vezes mil não alcançam a verdade.


Palavras não cruzam fronteiras de vidro.


Pan é um ponto com espirais periféricas. O ponto está em todos os lugares.


O corpo da mulher amada e o vinho têm o mesmo sabor.


A calêndula reproduz-se sol.


O sol, calêndula.


O mar, com sua voz, nos diz que além, além do tempo, algo permanece.


O passado não serve como mapa do futuro.


O futuro é um acontecer ai:presente realizado.


Nem a filogenia nem a ontogenia, mas a pangenia pode nos servir de guia para um futuro maior do indivíduo. E da espécie.


Os quasares, galáxias-antenas, bólidos celestiais, estrelas marinhas, não serão também mistérios no homem?


O limite do corpo nos diz aquilo que a alma não quis.


A maior liberdade é aquela alcançada nas contingências. A borboleta que morre ao atingir o fogo é mais feliz.


A mão do nada se insinua na angústia, mas quem move a mão é o ser.


Poesia, serpente que se auto-devora.


Não sabemos de nós o que devemos, mas o que queremos. Não queremos de nós o que devemos, mas o que sabemos.


Há aranhas que se lançam de montanhas ao vento e do vento ao nada. Alturas em que poucos homens conseguem chegar.


Sabedoria de poetas e grilos: cantar ao invisível.


A trama secreta do mundo é música. Mas é preciso silêncio para ouví-la.


Morremos aos poucos, desde o primeiro dia em que nascemos. Mas vivemos também a cada morte, minha ou tua: átomos primordiais que somos, espalhados no todo.


Há um porto onde Pan tem morada, mas aonde nem sempre o homem chega: o coração humano.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, adorei! Achei poético e entendi tudo. Meu hamster se chama Pan!

Anônimo disse...

Gostei!