Os leitores desse blog devem ter observado que as últimas postagens foram de poemas e que o número de poemas supera o de artigos e ensaios.
É verdade. Sou, antes de tudo, um poeta, essa é minha natureza fundamental. A poesia para mim é mais que mero exercício artístico, é uma forma de conhecimento tão válida quanto a ciência, mas de certa forma mais completa, ainda que não da maneira lógica habitual.
Então, os poemas expressam uma condição fundamental de minha relação com o mundo, assim como sua estética dizem da maneira como sinto o mundo ao redor, como amo e como expresso essas possibilidades de linguagem e de conhecer que a poesia traz.
ACORDAR
Acordamos sem nome, é o começo
todas as coisas nascem do esquecimento
sem sangue nos olhos, sal na língua
sem ruídos ou frio
pálpebras abertas
para o algodão dos dias
acordamos como se morrêssemos.
ESQUECIMENTO
O lodo quer a esconder a pedra
o lodo quer tomar o sol
não há sinais de luta
a pedra guarda memória
ter sobre si o lodo
é como se esquecesse.
INCOMPLETUDE
A fórmula do verso encerra a precisão da gema
estrofes no gesto da língua
de borboleta
que em espiral espera o mundo
incerteza do vôo, indecisão da flor
no momento de abrir-se
no perfume leve o encontro
do gozo e da memória
plena incompletude do amor
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