Ítaca
Telhados
Paredes
Horizontes
Brancos, brancos, brancos
e os olhos negros das mulheres
perscrutando o mar.
O Zero e o Infinito
Vocês que bebem o sumo das antenas de TV
talvez não saibam
a terra tem feridas que nunca cicatrizam
alguns poemas são marcas a fogo
em pleno Janeiro a lua nova
sumiu sob a luz dos viadutos
não sei como alcançar o nirvana
sem pagar as contas que restam
no primeiro dia era certeza
euforia de Olimpo, esperanças
no trigésimo dia, perguntas
vocês não escutam os gritos que vêm das florestas ou dos edifícios
meus ouvidos estão cheios de sustenidos de dor
cheios dessa voz intolerante que empurra os mendigos nas calçadas
derruba a seda das aranhas, mata com ácido e sarcasmo
a melodia bipolar do mar
talvez seja possível salvar a inocência
esse número que desdenha o infinito
talvez seja possível acordar todos os zeros
num coven à terra-mãe
no fundo dos olhos a pureza resiste, chama
vocês adormeceram sobre estradas de metal
ouço que em três dias nossas línguas falarão
sem medo
as palavras que a liberdade reclamar
não tenho pressa
a voz precisa do infinito.
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