01 dezembro 2008

Novos Poemas

CAVERNA

Não sou humano
não gosto de lojas, templos, ruas sujas
vomito tripês e avenidas quando a noite cai
uivo sempre em silêncio
porque meus irmãos estão longe
escondidos na grama de Aldebaran
engolindo poesia no Potala

Sou nuvem de argônio 14
luminosa guiando os peregrinos perseguindo
feromônios místicos da deusa
não devia dizer, mas odeio viadutos e comida burra
minhas mãos seguram o mel que recolho das estrelas
não sei erguer montanhas de centavos
sempre confundo os meses do ano
principalmente quando outubro transborda em Vênus
e de longe uma voz de muito longe
lembra tua frase incompleta
mel-disfarce na boca do poeta
isso sou eu, essa teia entre sedas
não sou humano
nada mais e somente
uma caverna onde sussurra tua voz.


MIGRANTE

Se chove, derreto-me argila
barro cru do Horto
pedra seca de caatinga
trago sertão nos olhos
retina de constelações

e para cada pássaro, cruzo também o azul
para sempre.



O QUE É O AMOR

Quando a poesia entra
todos reúnem-se à mesma porta
todos falando ao mesmo tempo
recordações de uma foto do Alasca
a frase de amor interrompida
velhos mitos em máscaras de couro
três versos que falam da Deusa
o poeta abre sua casa
para os deuses
bebendo espíritos, conversando sobre o mundo
deuses das bolhas de sabão, deuses das esferas de arminhos
deuses da células, deusas das constelações
deusas do amor, deusas do trigo
- esse verso vem primeiro,
é preciso falar do amor como nuvem de orvalho -
diz a deusa do orvalho
- não, o amor é trovão que começa na manhã
e não termina nunca de sonhar -
enquanto o deus do trovão resmunga
a deusa do mel sibila
- amor é mel recolhido
nas estações incertas da poesia

ele anota cada letra 
que vem onda, nuvem ou gota
muda a métrica, altera a rima
mas o que ele queria
pendurar o sol no quarto dela
perfumar de orvalho as cortinas
segura-lhe as mãos e dizer
já não sei mais cruzar o tempo
sem que tua voz de trigo
esteja sempre com a minha voz.

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