13 julho 2017

Cartago

As ruínas de Cartago são radioativas

Quais os cabelos das nuvens

Em São Paulo mendigos de Cartago disputam

Embalagens com restos de comida

As ruas de Cartago estão sujas

Da fuligem das câmaras de gás

Piratas vendem feridas de crianças nos bazares

Painéis da bolsa anunciam

Lotes de mortos de Cartago

Até que a felicidade seja plena

Nos bolsos dos senhores

Números transfinitos contam

As gotas de óleo nada praias de Cartago

Nós que esperamos o dissipar do fogo

Não podemos esquecer

De Cartago

Bicicleta

De bicicleta a moça

Navega pelo tempo

Na cidade do medo pedala estrelas

Que o asfalto esconde

Tão frágil a cidade se revela

Quando o vento espalha seus cabelos

Atravessando meridianos de néon

Vela a liberdade

Tão triste a tarde, tão bela a vida

De bicicleta a moça esquece

Os gases raros

Que a tristeza aquece

Imago

Pessoas não existem

Se desfazem  suavemente

Ao toque

Numa tela de cristal

Ébrias de tanta felicidade

Onipresentes

Onívoras

Sem passado

Entre riso e grito não há mais distinções

Se há abismos, não importa

Desde que alguém curta

O paradoxo