14 dezembro 2010

Dois Outros Poemas

FADA
    


Como em antigas histórias
nossos nomes se confundem


entre rios e rendas
o amor bebia sua história


em lugares insuspeitos
em paragens distantes


éramos mago e huri na Arábia Félix
éramos profeta e musa
em antigas terras gregas


tão próximos nossos cheiros
a música dos nossos corpos


quando longe
me manda sinais


de tua ausência
de teus sonhos


temas da memória
do muito que passou


da fome dos teus gestos
sinto, recebo


cada fábula que emana
de tua silenciosa presença


escuto tuas vozes
na diversidade dos ventos


na intrincada rede
da voz dos muitos bichos


do dialeto das folhas
do enigma das marés


em muitos anéis do tempo
esse espelho
onde nos damos as mãos


tu e eu em muitos hojes
tu, já que existo em ti


tu, cujo cheiro atrai a inveja das flores
tu, cujo nome amor
existe além de mim.




SERTÃO


Esse lugar tem nome de areia
no azul que devora a tarde


pátina no tempo, palavra
a esconder geografias


tesouro na memória que guarda
o rosto da curva dos ventos


assombroso mapa
de ausência e gozo


saber das pedras 
o que as predicam


saber da argila
sua quididade


ouvir da água a ternura
que se derrama nas folhas


sequestrar no hemisfério
o rastro dos cometas


na alba o cabelo das estrelas
dentro, fora, acima em mim


esse lugar mil nomes
essa certeza de sertão.





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