FADA
Como em antigas histórias
nossos nomes se confundem
entre rios e rendas
o amor bebia sua história
em lugares insuspeitos
em paragens distantes
éramos mago e huri na Arábia Félix
éramos profeta e musa
em antigas terras gregas
tão próximos nossos cheiros
a música dos nossos corpos
quando longe
me manda sinais
de tua ausência
de teus sonhos
temas da memória
do muito que passou
da fome dos teus gestos
sinto, recebo
cada fábula que emana
de tua silenciosa presença
escuto tuas vozes
na diversidade dos ventos
na intrincada rede
da voz dos muitos bichos
do dialeto das folhas
do enigma das marés
em muitos anéis do tempo
esse espelho
onde nos damos as mãos
tu e eu em muitos hojes
tu, já que existo em ti
tu, cujo cheiro atrai a inveja das flores
tu, cujo nome amor
existe além de mim.
SERTÃO
Esse lugar tem nome de areia
no azul que devora a tarde
pátina no tempo, palavra
a esconder geografias
tesouro na memória que guarda
o rosto da curva dos ventos
assombroso mapa
de ausência e gozo
saber das pedras
o que as predicam
saber da argila
sua quididade
ouvir da água a ternura
que se derrama nas folhas
sequestrar no hemisfério
o rastro dos cometas
na alba o cabelo das estrelas
dentro, fora, acima em mim
esse lugar mil nomes
essa certeza de sertão.