26 agosto 2009

O Que Amamos

O que conhecemos aprendemos a amar
mesmo as coisas cujas formas
são sempre passageiras

assim com as pessoas
que encontramos na estrada
que em um dia, um mês, um ano

em ritmo de sonho
nos contam suas dores, seus encantos
os olhos em busca

daquilo que sem nome nos assusta
esperamos que a meia-noite nunca venha
possa o tempo saltar a madrugada

as mãos deslizam pelo mapa
rugosidade das montanhas, azul dos rios
tantos lugares onde não habitamos

tantos lugares longe do presente
esses aromas, esses ventos
essas cortinas de estrelas

que descem sobre nossas palavras
mais dia, menos dia se desfarão
palavras, folhas, ventos

bolhas de sabão que a eternidade engole
manchas no espelho da memória
rio das lembranças se desfaz

na garganta do tempo
aqui, ali teu nome, meus silêncios
na areia das ruas o imóvel calendário

nos assombra
sob a garrafa da palavra mais rubra
sob o abraço que a ameaça da manhã apressa

amamos o que desconhecemos
paisagens longínquas, animais estranhos
rotas que não pisamos

onde a liberdade sempre
jorra em silêncio a poesia
amamos sempre tudo

o que a morte nos nega

11 agosto 2009

Digam-nos


Digam-nos quantos mares
dormem em vossas entranhas
e neles quantos seres
anunciam a poesia
que o horizonte derrama

Digam-nos quantos homens
abrem os olhos à noite
e sequestram hipocampos
que vagam nas estrelas

Digam-nos quanto sangue
escorre do silêncio
e quanto silêncio há
na boca das feridas
que os senhores escondem

Poesia é arma
para abrir os olhos

Poesia é adaga
para limpar os ossos

Poesia é plasma
para cicatrizar os sonhos