10 novembro 2008

Alguns Novos Poemas

CIGANOS

Nunca entramos nas cidades que dizem
sejam bem vindos
parece que nunca estamos em algum lugar
por trás de cada metro de estrada
no asfalto, na Via Láctea
algo nos chama para mais além
nenhum rosto é mais o mesmo rosto
nenhuma fala se completa sozinha
do canto de um muezim a última sílaba
foi um lamento inuit
da explosão da estrela Aldebaran
houve ecos
num sol de quinta grandeza
há nas ruas do Cairo poeira de Cnossos
em Illion lembranças de New grange
útero-túmulo, mapa do futuro
cuja rota é o próximo horizonte
pé na estrada, séculos após tanto tempo
decifrando alfabetos, escrevendo enigmas
para si mesmo
esfinge no espelho de Édipo
vinde a nós as borboletas
ciganas de flores coloridas
aquecei-nos com o néctar de vossas línguas, mostrai-nos
o leite das muitas vias
há velocidade nas patas dos cavalos
quando passamos por desertos e ruínas
mulheres fecharam os olhos, fizeram sinais
para aqueles que ficaram para trás
pensei que nossos corpos se desfarão pelas estradas
pó desfeito em rodovias
amanhece novamente
cantamos, não nos cansamos do sol
o que seria se a escuridão
permanecesse.


SILVÂNIA

Vi beija-flores sobre tua cabeça
dor em teu sentimento de vidro
amanhã
os pássaros sairão em passeata
reclamando teu nome
nuvens de borboletas pousarão em teus cabelos

trago água nas palavras, bebe-a
o sal aumentará tua sede
mas o mar tomará conta de tua alma
arrebatará teu espírito para horizontes
onde os deuses ainda sabem brincar.


LIVRE

A escuridão sufoca-me
as paredes, mesmo de vidro
minhas mãos lançam palavras ao vento
preciso de ar

coração encolhe quando o dia é preso
enlatado em janelas, meios-sentimentos
preciso esticar braços e pernas
sou curupira-kaapor

não me diga para esperar
não me diga para guardar para amanhã
o amor que brotou inteiro
a terra me quer agora

céu de maio, vento frio
flor de lótus desabrocha o peito
trago fogo nos cabelos
não tentem me prender os pés.

03 novembro 2008

Então,

Então,
a verdade é que sigo por caminhos que o horizonte desdobra a cada manhã. Nunca sei ao certo os passos que vou dar, só sei que às vezes as ruas se iluminam de muitos sóis e o amor invade os espaços com sua clássica obscuridade.
Nem sei nem procuro mais nenhuma forma de certeza; para que ? sou somente isso, uma pergunta, uma interrogação, um poema que o tempo se encarrega de escrever, uma edição sempre por corrigir.
Não há saídas para a solidão. Estamos sós, porta aberta à espera de respostas, silêncio da meia-noite, mensagem que fala dos muitos nomes de nós.
Então,
passo rápido como uma página virada pelos ventos,
vela que segue o gosto do mar e assim espera,
um dia poder ressuscitar.