Sol da Meia-Noite
Espero o sol da meia-noite
multidões de anjos barrocos cruzam o céu de Plutão
urinam nas sarjetas da Armênia
escorpiões e putas disputam o pão da manhã
há sangue em meus dedos de insônia
Espero o sol da meia-noite
o diabo bate a minha porta
ou talvez seja o destino
ter de esperar o sol da meia-noite
velar minha alma de vigília
Não dormirei mais
enquanto o coração não for uma arena de fogo
pétalas de lótus boiando em meu cérebro
a porta os sons de Citera, hinos a Vênus
montes de Vênus, ruas de Vênus
Citereia, Urânia
meu corpo teu mil corpos na combustão do amor
Espero o sol da meia-noite
tenho a barba por fazer e a promessa de não ser
poeira de estrelas, pó
névoa que se dissipa
Sim, vi o deus cristão copulando com um cogumelo atômico
por isso trago punhais espadas e vigílias
contra a insanidade dos deuses
Teu corpo brilhando à luz da estrela cão
chama contra as trevas do porvir
Espero o sol da meia noite
com meus olhos de Tirésias
e lâmpadas cheias de azeite
de meu sangue
de meu corpo crucificado
entre o tempo e o espaço
entre a história e o ser
Tu virás e o sol em tuas mãos
amor à meia-noite
o diabo bate a nossa porta
é o destino
ser luz
ainda que só
sol da meia-noite.
Tsurus
O amanhã se abrirá em pássaros
noventa e nove formas de dizer teu nome
mil e uma lembranças
de ti
Dentro
a cidade arde em palavras insanas
feérica noite tropical explodindo em fogos de versos
tua presença virtual toma-me de excessos
raízes, teus olhos têm raízes em cristais de água adormecida
meu olhar tem raízes no som da tua voz
guirlandas, fogueiras, lâmpadas
teus braços em minhas costas traçam o círculo
de onde garças partem
em busca de luz.
Epitáfio Para Um Pássaro
Para Gilvan - In Memorian
Sonhei com as forças da terra
reclamando teu nome
com crocodilos insones
atrás de tua seiva
Num instante queríamos banir o mal do mundo
abrir as portas do impossível
quebrar o tempo
libertar
as certezas insondáveis do futuro
Sonhei com você, mas o tempo se partira
contas de colar no assoalho do mundo
tua vida pousando
entre o nada e o tudo
Talvez o tempo nos reúna em suas portas
sob o som de violões de blues
algum bardo cego nos cante
as respostas que o vento não nos deu
Sonhei com você, era manhã
teu coração partia para outros mundos
a música de tua voz ecoava
no som de todos os pássaros.