29 maio 2009

Dois Novos Poemas

A Morte e a Donzela

Dizem que é um velho mundo esse das estrelas
que só há tempo para abismos

dizem que não vale à pena
a luz das constelações, melhor ver a luz no esgoto

as serpentes, orquídeas, caçadores
antas, emas, heróis muito além

brilham sem sede
de seus olhos
a poesia pulsa em plasma

dizem que só importa
a dura mão da morte
pousada sobre as coisas

e estrelas seguram as asas
da moça que corre para casa.



A Chama

Essas cores estranhas
vermelho amarelo azul fogo
depende do humor da chama
inquieta me escuta, língua de dragão

e trocamos sorrisos, sabemos
o que nela está por fora, em mim está por dentro
somos irremediavelmente
uns.

04 maio 2009

Gestos

De todas as coisas e gestos
guardo a semente daqueles
que se assemelham ao mar

onde na distância palavras ecoem
fortes como o trigo
nos campos de maio

assim poderei sempre partir
em busca da água, do fuzil

assim poderei sempre encontrar
a luz, a transparência

como a mão alcança o ombro no deserto
e caminhar se torna outro gesto
maior que o mar.

Os Sentidos da Terra

Ele queria ver o mar
esperava das ondas as respostas
que não lhe dera o vento

Ele cruzou fronteiras
andou nas terras onde a bruma esconde o sol
vagou entre os homens que cultivavam o esquecimento
também entre aqueles
que profetizavam o passado

seguia por onde houvesse
sussurros de nereida e onda
cruzou com magos que conjuravam flores
desdenhou aqueles que se chamavam de pastores
com os bolsos cheios de Deus

quando se escuta o azul, que mais importa

Ele queria ver o mar
que se estende, promessa bêbada entre os horizontes
nasceu entre aqueles que fumam narguilé nas torres
visitou os outros que encolhem cabeças
ele sabia do mar não somente brisa
mas também os sentidos da terra
ele queria bebê-lo até os dedos transbordarem algas
o céu dos olhos se dissipar em corais
até a música ser somente ondas
até não restar mais que sargaços
até desabrocharem a anêmona dos versos
até a voz liquefazer-se

Ele queria ver o mar